segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O olhar dos que almoçam sozinhos

Não é porque este blog se chama Sozinha no Almoço que eu vou ficar eternamente falando sobre esse assunto. Mas, eventualmente, em um dos meus lamentáveis almoço sem companhia irei acabar falando disso.

Hoje uma coisa me chamou a atenção. Eu nunca havia reparado no olhar nas pessoas que almoçam sozinhas. Eles são vagos, perdidos, fortuitos. Essas pessoas, em geral, mantêm os olhos baixos, concentrados na comida. Vez ou outra dão uma espiadinha no prato do vizinho, ouvem a conversa de quem está na mesa ao lado ou analisam as roupas de quem atravessa seu pequeno ângulo de visão. Quando dois desses olhares se esbarram é um constrangimento geral, como se você tivesse sido flagrado num pecado terrível. Mas às vezes surge um sorriso cúmplice. E você ganha o dia.

As pessoas que almoçam sozinhas inventam mil e uma maneiras de disfarçar sua solidão. Fazem anotações, telefonam ou mandam mensagens de texto, ouvem música, brincam com joguinhos no celular. Alguns malucos levam laptops para restaurantes e digitam furiosamente, como se estivessem concentradíssimos no trabalho mais importante de sua vida.

Ninguém gosta de ser visto sozinho todos os dias no mesmo restaurante. Isso por um lado é bom, pois nos obriga a explorar a cidade e encontrar locais alternativos. Hoje fui conhecer o KFC que abriu aqui nas redondezas (fast food é sempre a melhor opção para os solitários). Pela quantidade de gente que fazia fila na porta, achei que seria bom. Não é ruim, mas falta alguma coisa (não, não é uma companhia o que falta; estou falando do sanduíche). De qualquer forma, vem umas cinco toneladas de frango entre duas fatias de pão. Novamente, não é ruim, mas é too much for me.

Na verdade, às vezes a própria vida é too much for me.

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