segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O olhar dos que almoçam sozinhos

Não é porque este blog se chama Sozinha no Almoço que eu vou ficar eternamente falando sobre esse assunto. Mas, eventualmente, em um dos meus lamentáveis almoço sem companhia irei acabar falando disso.

Hoje uma coisa me chamou a atenção. Eu nunca havia reparado no olhar nas pessoas que almoçam sozinhas. Eles são vagos, perdidos, fortuitos. Essas pessoas, em geral, mantêm os olhos baixos, concentrados na comida. Vez ou outra dão uma espiadinha no prato do vizinho, ouvem a conversa de quem está na mesa ao lado ou analisam as roupas de quem atravessa seu pequeno ângulo de visão. Quando dois desses olhares se esbarram é um constrangimento geral, como se você tivesse sido flagrado num pecado terrível. Mas às vezes surge um sorriso cúmplice. E você ganha o dia.

As pessoas que almoçam sozinhas inventam mil e uma maneiras de disfarçar sua solidão. Fazem anotações, telefonam ou mandam mensagens de texto, ouvem música, brincam com joguinhos no celular. Alguns malucos levam laptops para restaurantes e digitam furiosamente, como se estivessem concentradíssimos no trabalho mais importante de sua vida.

Ninguém gosta de ser visto sozinho todos os dias no mesmo restaurante. Isso por um lado é bom, pois nos obriga a explorar a cidade e encontrar locais alternativos. Hoje fui conhecer o KFC que abriu aqui nas redondezas (fast food é sempre a melhor opção para os solitários). Pela quantidade de gente que fazia fila na porta, achei que seria bom. Não é ruim, mas falta alguma coisa (não, não é uma companhia o que falta; estou falando do sanduíche). De qualquer forma, vem umas cinco toneladas de frango entre duas fatias de pão. Novamente, não é ruim, mas é too much for me.

Na verdade, às vezes a própria vida é too much for me.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sonhos que não podem ser

Certa vez, quando eu era bem jovemtinha 14 ou 15 anos, talvez –, li um texto do Miguel Falabella chamado “Sonhos que não podem ser”.

Na ocasião, certamente o texto me chamou atenção porque me fez pensar nos meninos que eu não poderia ter, nas viagens que eu não poderia fazer, nas coisas que não poderia comprar. A lista de sonhos que não podiam ser era interminável.

Guardei o recorte de jornal durante anos, até que ele se foi, junto com a última agenda da juventude, naquele momento em que a gente decide se vai crescer ou continuar adolescente para sempre. Escolhi a crescer, e meus antigos sonhos ficaram para trás.

Hoje, adulta, me lembrei desse texto. E percebi que muitos de meus sonhos ainda não podem ser.

Será que um dia poderão?

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Solitárias do meio-dia, uni-vos!

Ser uma mulher moderna e independente tem lá os seus pontos negativos. O mundo corporativo pode ser um grande parque de diversões, mas também pode se tornar um grande pesadelo - principalmente na hora do almoço.

Atire a primeira pedra quem nunca se sentiu um fracasso quando se viu sozinha na mesa do restaurante, cercada por grupos animados e cheios de cumplicidade empresarial. Aí você come um sanduíche rapidinho, leva um livro para não precisar olhar para a cara de ninguém ou faz a linha blasé, fingindo ser superbem-resolvida com a sua solidão.

A verdade é que ninguém gosta de almoçar sozinho.

Aquela horinha sagrada no meio do expediente é um bálsamo, uma oportunidade de recarregar as baterias para o segundo round. Assim, quando a hora do almoço se torna um martírio - ai, meu deus, o que eu vou inventar para fazer hoje? -, nossa vida fica um horror.

Portanto, solitárias crônicas do meio-dia, uni-vos! Espremi os limões da minha temida hora do almoço e estou tentando fazer uma limonada docinha e reenergizante. Façam o mesmo! Libertem-se!